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Compulsões
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Compulsões

Artigo de autoria do  Dr. Geraldo J. Ballone, especialista em psiquiatria pela ABP e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCCAMP desde 1980. Coordenador do site PsiqWeb.
As compulsões, comportamentos compulsivos ou aditivos são hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, normalmente um alívio de ansiedade e/ou angústia. São hábitos mal adaptativos que já foram executados inúmeras vezes e acontecem quase automaticamente.
Diz-se que esses comportamentos compulsivos são mal adaptativos porque, apesar do objetivo que têm de proporcionar algum alívio de tensões emocionais, normalmente não se adaptam ao bem estar mental pleno, ao conforto físico e à adaptação social. Eles se caracterizam por serem repetitivos e por se apresentarem de forma freqüente e excessiva. A gratificação que segue ao ato, seja ela o prazer ou alívio do desprazer, reforça a pessoa a repeti-lo mas, com o tempo, depois desse alívio imediato, segue-se uma sensação negativa por não ter resistido ao impulso de realizá-lo. Mesmo assim, a gratificação inicial (o reforço positivo) permanece mais forte, levando a repetição.
Por exemplo: Se a pessoa é acometida pela idéia (contra sua vontade) de que está se contaminando através de alguma sujeita nas mãos, terá pronto alívio em lavar as mãos. Entretanto, se tiver que lavar as mãos 40 vezes por dia, ao invés de adaptar essa atitude acaba por esgotar.
Se a pessoa é acometida pela idéia de que seus pais sofrerão algum acidente fatal, poderá conseguir alívio da angústia gerada por esses pensamentos se, por exemplo, bater 3 vezes na madeira… Mas tiver que bater na madeira 40 vezes por dia, ao invés de aliviar, essa atitude acaba por constranger e frustrar.
Se a pessoa tem um pensamento incômodo de que aquilo que acabou de comer poderá engordá-la, terá alívio dessa sensação provocando o vômito, ou tomando laxantes….
Causas: Não há uma causa bem estabelecida para a ocorrência de comportamentos compulsivos. Pode-se falar em vulnerabilidades e predisposições, seja de elementos familiares, tais como os hábitos conseqüentes à extrema insegurança e aprendidos no seio familiar, seja por razões individuais e relacionados às vivências do passado e a ao dinamismo psicológico pessoal, seja por razões biológicas, de acordo com o funcionamento orgânico e mental.
Assim, comportamentos compulsivos ou aditivos podem ser entendidos como atitudes (mal adaptadas) de enfrentamento da ansiedade e/ou angústia, trazendo conseqüências físicas, psicológicas e sociais graves. Algumas pessoas apresentam
comportamentos com caráter compulsivo, que levam a conseqüências negativas em suas vidas, como por exemplo, recorrer ao uso abusivo do álcool, das drogas, à fuga do convívio social, ao hábito intempestivo do vômito e às mais variadas atitudes.
Essas pessoas podem ainda comprar compulsivamente, sem levar em conta o saldo bancário, comer compulsivamente, mesmo quando não se tem fome, jogar, praticar atividades físicas em excesso, etc.
Complicações: Normalmente nesse tipo de problema, classificados em sob o título de transtornos do espectro obsessivo-compulsivo (TOC), a pessoa acaba tornando-se dependente dessas atitudes, as quais ocupam um espaço importante no seu cotidiano. Em alguns casos ocorrem-se danos físicos, como na pessoa com vigorexia, que precisa malhar (exageradamente) todos os dias e por longas horas, ou lesões na pele das mãos devido aos rituais de lavar continuadamente, ou escoriações quando há auto-escoriações, calvície quando há tricotilomania, ou desnutrição quando a compulsão é por vômitos (bulimia) e assim por diante.
Normalmente essas pessoas sentem desconforto emocional se não fizerem esses comportamentos, apresentam grande angústia ou ansiedade na ausência ou na impossibilidade em realizar a atividade compulsiva. Socialmente a ocorrência de tais comportamentos pode resultar em prejuízo no trabalho, na conclusão de tarefas, na liberdade de sair de casa, na vergonha do contato com outras pessoas, etc.
A repetição desses comportamentos e o aumento gradual da frequência deles acabam caracterizando um verdadeiro processo de dependência. Alguns buscam o alívio do desprazer das emoções de angústia e ansiedade, do afastamento de pensamentos incômodos. Quando se pretende a busca do prazer pode haver adicção química, que é o consumo exagerado de substâncias.
Didaticamente podemos dizer que existe uma grande semelhança entre comportamentos compulsivos e dependência química: a angústia provocada pela ausência, os sintomas emocionais da abstinência, tais como tremores, sudorese, taquicardia, etc, o caráter compulsivo e repetitivo, a importância que essa atitude ocupa na vida da pessoa, o comprometimento na qualidade da vida familiar, profissional, afetiva e social. É assim que, por exemplo, o ato de jogar tem praticamente o mesmo papel que a droga, ou álcool, a cocaína e outras substâncias psicoativas.
Comprar Compulsivo
Assim como os demais comportamentos compulsivos ou aditivos, o comprador compulsivo é, praticamente, um dependente do comportamento de comprar, precisando fazê-lo sem limites para se sentir bem, pelo menos bem naquele momento (para depois arrepender-se).
O comprador compulsivo acaba por consumir coisas pelo fato de consumir e não mais pela necessidade do objeto que é consumido. Ir ao shopping sem realizar algumas compras parece tornar-se quase impossível. Muitas vezes sente-se culpado, porém, como em qualquer comportamento aditivo, o mais comum é perder o controle da situação. Entretanto, é fundamental fazer a diferença entre o simples hábito pelas compras do comportamento compulsivo às compras. “Os hábitos de consumo são mais emocionais que racionais”, afirma Dílson Gabriel dos Santos, que leciona comportamento do consumidor na USP. O professor esclarece que comprar por impulso, mas não por compulsão, é adquirir um bem por sentir uma atração instantânea pelo produto, seja por causa da embalagem, do preço ou do apelo publicitário.
Essas pessoas impulsivas pelas compras cometem as “… pequenas loucuras que se cometem ao passar pelas gôndolas de supermercados”, diz. “Leva-se uma garrafa de bebida, um iogurte ou um pacote de biscoitos a mais”, observa. Já o  compulsivo vai às compras como um viciado que sai de casa para jogar ou em busca das drogas, e a compulsão acaba sendo uma atitude que exclui logo o prazer pela aquisição do novo produto.
Trabalhar Compulsivo
Com o objetivo de vencer profissionalmente, ganhar dinheiro, sobressair-se socialmente, tem sido glorificado pelo sistema cultural que a pessoa procure dar o melhor de si trabalhando. O trabalho pode ser utilizado como uma ocupação mental capaz de tomar o espaço de outros sentimentos ou pensamentos mais difíceis de serem vivenciados. Quando a atividade funciona como uma forma de esconder-se, fugir ou não ter que sentir ou pensar em outros problemas, enfim, quando alivia a angústia da vida de relação, o trabalhar pode tornar-se compulsivo, constante, enfim aditivo.
Neste caso, o trabalhar perde sua função natural passando a ser prejudicial ao bem estar físico, familiar psicológico e social do indivíduo. Na compulsão pelo trabalho a pessoa vai de casa para o trabalho, do trabalho para a casa, excluindo-se de sua vida as opções do lazer, as pausas nos finais de semana, o convívio descontraído com a família, etc. A pessoa com compulsão pelo trabalho freqüentemente exige dos outros o mesmo ritmo que tem para si, costuma criticar demais esses outros, exige perfeição, dedicação e devoção ao trabalho, tal como elas próprias se comportam. E o próprio compulsivo para o trabalho sofre com sua situação.
Normalmente são pessoas severas, isoladas, inflexíveis, perfeccionistas, amargas e exageradamente “realistas”. Por causa dessas características os workaholics racionalizam tudo na vida, ocultam seus próprios sentimentos, têm um contato mínimo com eles próprios e mantêm abafados seus conflitos íntimos. Para essas pessoas o trabalho é seu escudo protetor e, melhor que isso, trata-se de uma atitude fortemente enaltecida pelos valores sociais. Mas, na realidade, o workaholic também sofre, normalmente é um insatisfeito consigo mesmo, alimenta a fantasia de ser potente e meritoso. Na verdade, toda essa voracidade para o trabalho pode estar aliviando sentimentos de angústia por se acreditar um pai omisso ou uma mãe ausente, um companheiro fugidio, etc.
Comer Compulsivo
Os transtornos alimentares constituem uma verdadeira “epidemia” que assola sociedades industrializadas e desenvolvidas acometendo, sobretudo, adolescentes e adultos jovens. Vivemos em uma sociedade na qual existe o culto da magreza. Assim, comer, um comportamento universalmente tido como prazeroso, torna-se alvo de preocupação de muitas pessoas. Como usufruir deste prazer sem sentir-se fora dos padrões sociais de saúde e beleza? Quais serão os sintomas dessa epidemia emocional? De um modo geral, o pensamento falho e doentio das pessoas portadoras dessas patologias se caracteriza por uma obsessão pela perfeição do corpo. Na realidade, trata-se de uma “epidemia de culto ao corpo”.
Essa “epidemia” se multiplica numa população patologicamente preocupada com a perfeição do corpo e que está sendo afetada por alterações psíquicas caracterizadas por distúrbios na representação pessoal do esquema corporal. Os transtornos alimentares vêem aumentando sua incidência perigosamente e já começa a alarmar especialistas médicos, sociólogos, autoridades sanitárias. Essa busca obsessiva da perfeição do corpo tem várias formas de se manifestar e, algumas delas, diferem notavelmente entre si. Existem os transtornos alimentares mais tradicionais, que são a anorexia e bulimia nervosa mas, não obstante, existem outros que se estimulam e desenvolvem na denominada “cultura do esbelto”.
Todos estes transtornos alimentares compartilham alguns sintomas em comum, tais como, desejar uma imagem corporal perfeita e favorecer uma distorção da realidade diante do espelho. Isto ocorre porque, nas últimas décadas, ser fisicamente perfeito tem se convertido num dos objetivos principais (e estupidamente frívolos) das sociedades desenvolvidas. É uma meta imposta por novos modelos de vida, nos quais o aspecto físico parece ser o único sinônimo válido de êxito, felicidade e, inclusive, saúde.

Categorias: Compulsão, Terapia Cognitiva

Andreia Coliath

Andreia Coliath

Sou Psicóloga Clinica ( CRP 06/67143) e palestrante, atendo em Clínica particular crianças, adultos e casais desde 2001. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

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